Quem é gorda e tem mais de 30 anos, como eu, sabe o que foi a Revista Boa Forma na fila do pão sem glúten. Simplesmente o manual de como o seu corpo deveria ser e, claro, a prova concreta, com páginas e fotos, do quanto você era inadequada.
Comprei a minha primeira Boa Forma lá pelos 15 anos. Eu achava que aquelas informações poderiam, finalmente, me ajudar a se quem eu deveria ser. Minha mãe gritava na minha orelha o quanto eu era inadequada e sim, eu precisava fazer alguma coisa, não é mesmo? Informação na internet não existia, nem a própria internet, então ela reinava absoluta, cagando regras a torto e a direto, do que se poderia ou não usar e de como o seu corpo deveria ser.
Pior: cheia, lotada de mentiras e Photoshop. Mentiras nas idades das personagens, nos métodos de emagrecimento, possivelmente do peso e da medida. Algumas medidas eram irreais e nunca vi nenhuma vir com um placa dizendo “acreditar na Boa Forma causa dismorfia corporal e síndrome do pânico”. Não! Ali, estava a “verdade absoluta”.
Toda edição de outubro tinha o desafio do verão. Sim porque você, gorda e nojenta, precisava entrar no biquíni com aquela barriga zerada e coxas duras. Duras como os termos que eram usados na revista naqueles tempos. Quem tiver uma edição antiga é só abrir, em qualquer página. Era assustador. Mas eu acreditava. Em cada palavra.
Sabemos que a questão foi financeira – crise “they say” – mas na realidade uma revista como aquela não tinha mais espaço no mercado. Por mais que eles tentassem modificar o palavreado gordofóbico ao longo dos anos, as fotos das saradas e magérrimas seguiam incólumes. Não dá pra colocar uma plus size na capa de uma revista com esse nome, não é mesmo? Incoerente ou não, era algo que ainda perpetuava o padrão vigente e fazia a mulher se sentir “oh, uma bosta”.
E agora ela acabou. E o grito de todas as “fora de forma” está solto e sendo atirado aos quatro ventos. Libertem a mulher dessa obrigações, parem de nos amarrar em conceitos vagos e negativos. Somos lindas como somos: plus, magras, saradas ou Gracianes. Somos quem somos e temos o corpo que compete ao nosso estilo de vida e às nossas escolhas e ninguém, ninguém mesmo tem que dizer o que é certo ou errado.
Vamos mudar o nome para “Vida saudável” ou “Vivendo melhor”. Coisas que realmente façam sentido, como uma boa alimentação e alguns exercícios. Vamos falar da nossa cura interior, de como precisamos nos amar e o quanto precisamos aceitar quem somos, seja lá como for. Ooops, mas isso é o objetivo desse blog! Não é que a revista Boa Forma realmente me deixou uma lição: o que não fazer! Nunca! Com você mesma e com as amiguinhas.
Sim, é o fim de uma era. O começo da liberdade e do amor próprio! Ainda bem que eu vivi (e não morri com alguma das dietas da moda) para ver isso!

E você? Também sofreu com esse manual do demo? Deixe o seu comentário!